sexta-feira, agosto 18, 2006

Co-Inceneração: Coimbra Considera Dispensade AIA "Inaceitável"

O Conselho da Cidade de Coimbra considerou ontem que a decisão do Governo de dispensar de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) a queima de resíduos industriais perigosos na cimenteira de Souselas "é inaceitável" e demonstra "bastante ligeireza".

"É uma decisão inaceitável, que revela bastante ligeireza. É passar uma carta em branco a uma situação que é preocupante. A população fica completamente exposta, desconhecendo os riscos", considerou a presidente, Maria de Lurdes Cravo.

Na perspectiva da presidente desta associação cívica que visa desenvolver a democracia participativa, a "situação é muito mais preocupante" em relação à cimenteira de Souselas [Coimbra], dado que nesta, ao contrário da fábrica do Outão [Setúbal], não foram efectuados testes e não existe uma comissão de acompanhamento.

Para a antiga vice-presidente da direcção nacional da associação ambientalista Quercus, o Governo, ao dispensar a realização destas avaliações, que exigem técnicos qualificados e passam por várias comissões de análise, "está a considerar que os estudos de impacto ambiental não têm grande importância".

"Os estudos de impacto ambiental estão previstos na lei, são documentos orientadores muito importantes e apontam medidas minimizadoras para o caso de haver riscos", sustentou, frisando que está subjacente o princípio da precaução.

Por outro lado, a presidente do Conselho da Cidade de Coimbra considerou "uma contradição" o Governo avançar com esta decisão sem ser conhecido ainda o resultado final do estudo sobre o estado de saúde dos habitantes de Souselas.

O presidente da Junta de Freguesia de Souselas, João Pardal, já anunciou que vai recorrer aos tribunais e à Comissão Europeia para travar a intenção do governo de prescindir do estudo para proceder à co-incineração na fábrica da Cimpor situada nesta vila.

A decisão de dispensar de AIA a instalação de co-incineração naquela localidade, subscrita pelo ministro do Ambiente, Francisco Nunes Correia, foi publicada em Diário da República na segunda-feira.

quarta-feira, agosto 16, 2006

Incêndios, Secas; inundações Aumentarão Nos Próximos Dois Séculos



A Organização Marítima Internacional (OMI), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Ambiente, vai realizar, amanhã, uma reunião de especialistas internacionais para coordenar esforços de combate à maré negra no Líbano e Síria.

O encontro vai decorrer em Piraeus, porto de Atenas, e reporta àquele que já é considerado o maior derrame de sempre no Mar Mediterrâneo. A causa foi um ataque israelita a uma central de produção de energia libanesa, já no mês passado.

«O objectivo é acordar uma estratégia comum para responder à poluição que está a afectar o ambiente marinho das costas libanesa e síria; identificar acções preparatórias para enfrentar a possibilidade da maré negra se estender a outros países e considerar apoio financeiro e outro para a implementação da estratégia acordada, que começará o mais cedo possível», lê-se num comunicado da OMI.

O Regional Marine Pollution Emergency Response Centre for the Mediterranean Sea já iniciou esudos na região afectada e, sempre que possível, enviou e vai enviar missões técnicas de campo.

«Apesar do derrame e da poluição não terem sido originados por acidentes com navios, a OMI vai contribuir com qualquer esforço para mitigar os impactes e aconselhar as operações de limpeza», disse o secretário-geral da OMI, Efthimios Mitropoulos, aproveitando para apelar a contribuições internacionais para esta causa.

sexta-feira, agosto 11, 2006

SAARA SOPRA TONELADAS DE AEROSSOIS POR ANO PARA PORTUGAL

Nuvens de partículas de aerossóis chegam, várias vezes por ano, a Portugal, viajando desde o deserto do Saara. Sabe-se que as muitas toneladas daquela substância afectam o clima português.

Cientistas nacionais e de todo o mundo têm estudado o fenómeno, procurando entender os seus mecanismos e as formas como influencia o clima. Já se determinou que os aerossóis chegam a Portugal, sobretudo, nos meses do Verão, mas também em Fevereiro e Maio.

Podem influenciar o clima ao reenviar para trás parte da radiação solar, o que produz o arrefecimento da temperatura, mas também se pode dar o efeito contrário com a absorção da radiação ultravioleta.

Acresce que os aerossóis interagem com as nuvens, alterando as suas propriedades ao criarem gotículas mais pequenas e leves que dificultam a ocorrência de pluviosidade

O LIBANO PODE LEVAR MAIS DE 10 ANOS S RECUPERAR DO DESASTRE ECOLÓGICO

O litoral do Líbano pode levar mais de dez anos a recuperar do derrame de combustível provocado pelo bombardeamento israelita de uma unidade de produção de energia, em Julho passado.

O ministro do Ambiente libanês, Yacoub Sarraf, avançou com estas previsões e acrescentou que nada poderá ser feito enquanto persistir o conflito entre Israel e o Hezbollah. Entretanto, a mancha de combustível já atingiu 120 quilómetros da costa do país, que já se mostra gravemente afectada.

«O estrago está feito. Não é preciso dizer que toda a comunidade de pescadores será atingida por, pelo menos, dois ou três anos, até que o ecossistema se restabeleça», disse Sarraf. «O sector do turismo também foi afectado por uma ou duas temporadas e estou a ser bastante optimista».

A porta-voz do Plano de Acção para o Mediterrâneo do Programa das Nações Unidas para o Ambiente, Luísa Colasimone, avançou, entretanto, que «é prematuro chegar a qualquer conclusão sobre o tipo de combustível e os potenciais impactos para a saúde antes das amostras serem analisadas».

A Síria já recebeu uma equipa de especialistas enviada pelas Nações Unidas, que deverá recolher amostras do combustível.

A organização ecologista internacional Greenpeace afirmou, também, que não serão iniciadas quaisquer operações de limpeza enquanto não for possível garantir a segurança dos trabalhadores. Vários países ofereceram assistência técnica e profissional para ajudar o Líbano, mas a segurança de pessoas e equipamentos tem de ser assegurada.

As últimas imagens de satélite a que o governo libanês teve acesso mostram a mancha de combustível a expandir-se pelo Mediterrâneo, em direcção à Turquia e ao Chipre.

terça-feira, agosto 01, 2006

2036 Memórias de uma professora titular

O importante é chegar a professora titular. Foi com este pensamento que tracei a rigor o meu destino, há tantos anos atrás. Filhos, tê-los-ei aos quarenta, antes nem pensar pois quatro meses de licença de maternidade lançar-me-iam irremediavelmente no nível Regular impedindo-me a tão desejada progressão na carreira. E assim foi.

Tudo me correu lindamente até ao décimo sétimo ano de leccionação. E ao longo desses anos aprendi a agradar a todos, aos alunos, aos pais e ao executivo da escola. Porque chegar a professora titular implicava uma escolha entre outros muitos candidatos, a quem tudo tinha corrido igualmente bem. Cheguei, inclusivamente, a ter alunos que passavam o fim-de-semana comigo e com a minha família. E eu até lhes passava as t-shirts a ferro e fazia trancinhas no cabelo das meninas. E um dia a televisão bateu-me à porta para fazer uma reportagem, assim inesperadamente. Era eu de avental a servir-lhes a sopinha, a dar-lhes conselhos e a fazer-lhes festinhas na cabeça. E o jornalista até me perguntou se também lhes cantava canções de embalar e eu disse-lhe logo que sim, que até lhes lia os "Versos de fazer ó-ó" do José Jorge Letria e que depois de adormecerem aproveitava para lhes ir lendo o "Memorial do Convento". E expliquei-lhes que a leitura durante o sono era um método totalmente inovador em que tudo se apreende de forma suave e que assim não havia o trauma de o livro ser grande ou de os jovens não perceberem as palavras e terem de ir ao dicionário, que isso dá muito trabalho, coitadinhos!
Tudo me corria às mil maravilhas até ao dia em que uma apendicite aguda me levou à cirurgia. Oh, maldita apendicite! E voltei à escola ainda com os pontos fresquinhos, a pensar que só tinha dado cinco faltas. Mas enganara-me nas contas com a história da anestesia. Afinal eram seis as faltas, seis! E já não teria Bom na avaliação, somente um Regular. E já não passaria a professora titular.

Foram mais seis anos de espera. Deixa, aos quarenta e seis ainda vou a tempo de ser mãe. É uma gravidez de risco mas isso que tem, se há já quem tenha os filhos aos cinquenta, aos sessenta e qualquer dia aos cem!

Mas aos quarenta e cinco foi a hérnia discal. Oh, maldita hérnia discal! Ainda pensei em ir de cadeira de rodas ou se necessário fosse, de maca, mas o médico chamou-me louca e reteve-me dez longos dias no hospital.

E foi assim que somente aos cinquenta e dois cheguei a professora titular. Era tarde demais para ser mãe. Mas, meu Deus! Eu era professora titular! Fiquei tão radiante que até me lembrei de bordar em todos os lençóis de renda, em arabescos graciosos, "professora titular", "professora titular" e em toalhas e em quadros de ponto cruz, "professora titular", " professora titular" e depois mandei gravar em todas as minhas canetas e no estojo dos lápis, "professora titular", "professora titular" e na porta do meu carro e no guarda-chuva e no guarda-sol porque, faça sol ou faça chuva, eu sou professora titular!

Agora que sou professora titular tenho, além das aulas, muitos e variados cargos que me dão tanto que fazer. Mas ainda vou arranjando um tempinho para ir aconselhando os novos e vou-lhes ensinando como se chega a titular e como é importante ir ao médico todas as semanas e levar todas as vacinas possíveis e imagináveis e como é totalmente recomendável andar com um triplo airbag no carro. E digo-lhes e repito-lhes: " professor prevenido vale por dois".

Mas apesar de todos os meus conselhos e avisos ainda há os que, desprezando-os, se vêem de repente em maus lençóis. Foi o caso de um brilhante ex-aluno meu, brilhante universitário, brilhante estagiário, brilhante professor que tendo passado com distinção o Exame de Estado e tendo obtido aprovação na entrevista, não conteve os seus impulsos mais genuínos e românticos durante o ano probatório, fruto da sua juventude e inexperiência e não se cansou de defender o indefensável, a exigência, o rigor, a disciplina, criticando com excessivo entusiasmo o facilitismo reinante e não se cansou de duvidar e de contestar. E eu que lhe dizia: " Meu filho, tem tento na língua, como queres tu chegar a professor titular? Vá aprende comigo e diz "Ámen"! "Ámen"! Mas ele que não me ouviu. E deu-se o caso, vá lá saber-se porquê, de o jovem brilhante professor obter, no final do ano probatório, a infeliz classificação de 6.8 quando precisava apenas de 6.9 para integrar o quadro. E foi assim exonerado da profissão. E teve de arranjar logo umas tabuinhas para se ir juntar aos outros muitos professores, desempregados e exonerados, lá debaixo da ponte Vasco da Gama porque ele me dizia que preferia a terra firme, senão tinha arranjado um botezinho como os outros fazem.

E certa manhã ajudei-o a levar as tabuinhas e a construir a cabaninha debaixo da ponte. Era um dia brilhante, de cores perfeitas, em que o sol resplandecia sobre o rio azul e o sapal era verde marinho e gracioso, salpicado de aves pernaltas. Mas lá estavam as centenas de cabaninhas e os milhares de botes pacientemente amontoados. E ali tudo era cinzento e triste. E foi nesse momento que caí em mim e vi a injustiça daquilo tudo. A minha luta para chegar a professora titular parecia-me agora absolutamente vazia e sem sentido. Eu deveria ter lutado sim mas contra o "novo" estatuto da carreira docente de 2006!!

Por isso, como era urgente recuperar o atraso de trinta anos, transformei-me em gigante Adamastor e peguei nos milhares de professores e respectivas famílias que viviam nos botezinhos e nas cabaninhas e levei-os para o Ministério da Educação. Todo o edifício estremeceu à nossa chegada porque nós trazíamos uma tempestade de mil dias. Mas o "novo" estatuto depressa sucumbiu, de medo e de vergonha, porque muitas tinham sido as injustiças que criara. Adeus "novo" estatuto! Vai e não voltes nunca mais porque nós queremos mudança mas não queremos injustiça!

Cristina Neves, professora de História

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