A luta contra o Consumo do tabaco é na verdade um caso de saúde pública. Por achar de grande importância a notícia que o Correio da Manhã publicou há dias, passo a transcrevê-la com a devida vénia:
"Não é um filme de gansgters. É uma acusação dirigida à indústria do tabaco pelo governo federal norte-americano, que se viu impedido, na sequência dos acordos entre cada um dos 50 estados e as tabaqueiras, de persegui-la judicialmente procurando ressarcimento do dinheiro gasto no tratamento de antigos fumadores.
O governo federal baseou-se numa lei de 1970, segundo a qual uma actividade económica é considerada criminosa se estiver ligada a uma conspiração ilegal. Lembrando a reunião de 1953, os acusadores apontaram as empresas Philip Morris, RJ Reynolds, Brown & Williamson, British American Tobacco, Lorillard Tobacco e Liggett Group, dizendo: “Conspiração!”
Os documentos, alegaram, “provam que os dirigentes dos principais grupos do tabaco reuniram-se em Nova Iorque há 50 anos para estabelecer uma estratégia de comunicação visando manter a dúvida sobre o perigo dos produtos vendidos”. Investigadores de reconhecido valor científico terão sido pagos para contrariar publicamente a ligação entre tabaco e cancro do pulmão, admitida em documentos secretos, que as empresas foram obrigadas a tornar públicos.
‘EXACTAMENTE COMO A MÁFIA’
No documentário de Nadia Collot, o professor de Direito Internacional Robert Blakey nem pestaneja quando afirma: “A indústria do tabaco organizou-se exactamente como a máfia para enganar o corpo médico, o gabinete de controlo de estupefacientes, o governo, o congresso e os consumidores. Tais práticas não são diferentes das usadas pelas famílias do crime organizado que vendem heroína.”
A indústria defende-se como pode. Não admite qualquer reunião secreta em 1953. Recusa ter sistematicamente negado os efeitos nocivos do tabaco sobre a saúde, lembrando que, desde 1966, os maços de tabaco apresentam alertas. Invoca a concorrência feroz entre as empresas como prova de ausência de um complô. Nega sempre.
BATERIAS APONTADAS A ÁFRICA
Com o objectivo de compensar a queda do consumo de cigarros na Europa Ocidental, estimada em oito por cento, as empresas tabaqueiras apontam baterias ao continente africano, onde esperam que as vendas aumentem 16 por cento.
Nadia Collot, realizadora do documentário ‘Tabaco, a Conspiração’, sustenta que a estratégia definida para o efeito faz uso de métodos comerciais de tipo mafioso.
Collot refere-se, por exemplo, à inundação dos países do Terceiro Mundo com cigarros a preço muito baixo, quase gratuitos, para assegurar a dependência cada vez maior da população, nomeadamente dos jovens. Em África, os cigarros custam menos do que a água.
Fidelizar os consumidores jovens passa igualmente pelo patrocínio, muito agressivo, de competições desportivas e eventos musicais por marcas de tabaco.
NEGADO EM PÚBLICO"
Com uma única excepção, todos os investigadores com quem falámos pensam que fumar causa cancro do pulmão." British American Tobacco (BAT), 1958
"Se os governos sugerem que o tabagismo causa certas doenças, as empresas devem resistir a isso obstinadamente e pôr todos os meios à disposição." Documento secreto da Philip Morris "
A nicotina é... uma droga muito boa." Sir John Ellis, BAT, 1962
"A BAT devia aprender a considerar-se uma empresa que vende droga e não tabaco." Dr. Robin Crellin, 1980"
Marlboro domina o mercado dos 17 anos e menos." Documento da Philip Morris"
Apresentai aos jovens o cigarro como uma forma de se iniciarem no mundo dos adultos." Recomendação da agência de publicidade Ted Bates, para a BAT, 1975
"...pôr em acção uma equipa de especialistas organizada por um coordenador científico e advogados americanos para rever a literatura científica, fazer estudos sobre o tabagismo passivo e manter a controvérsia." Objectivo da estratégia de desinformação ‘White Coat’, S. Boyse, BAT Londres, 1988
CINEASTA COM UMA CAUSA
“Como é possível que o tabaco pareça banal quando mata um em cada dez dos seus fiéis consumidores?” Nadia Collot, cineasta francesa, ex-fumadora, quis encontrar a resposta, tendo passado três anos a fazer o documentário que acaba de ser apresentado na França, com o título, em tradução literal, ‘Tabaco, a Conspiração – Na Engrenagem de uma Indústria Assassina’.
O título não engana. Nadia Collot é uma cineasta com uma causa, ao jeito do celebrado e às vezes odiado Michael Moore. Com paciência, a documentarista obteve o testemunho de vários ‘arrependidos’ da indústria do tabaco, entre os quais um publicitário que para cada infracção à lei da publicidade dirigida aos jovens tinha à disposição, antes mesmo de cometê-la, um advogado especializado.
Nadia Collot entrevistou também Ragnar Rylander, investigador de renome, pago pela indústria para minimizar publicamente os efeitos do fumo passivo.
Jéremy, antigo especialista de marketing da Altadis, explica com detalhe as técnicas usadas para fidelizar os fumadores o mais cedo possível, uma vez que “depois dos 25 anos raramente se muda de marca de cigarros”. Segundo afirma, “as melhores ferramentas de marketing para iniciar as crianças no universo do fumador são a televisão e o cinema”. Jéremy considera que, ao contrário da ideia dominante, “fuma-se mais nos filmes de hoje do que nos dos anos 50”. Atrás de um herói que puxa do cigarro está provavelmente a indústria do tabaco. Stallone terá recebido meio milhão de dólares para fazer publicidade encapotada em cinco filmes e a Philip Morris terá entregue uma quantidade choruda pretendendo que a marca Marlboro aparecesse em ‘Superman II’.
O pai de Nadia morreu com cancro do pulmão. Pesava 48 quilos. O filho de Nadia, de 14 anos, esqueceu-se de um maço de tabaco no quarto. Ela encontrou-o e ficou assustada.
O PODER DO DINHEIRO
Russell Crowe é Jeffrey Wigand, um bioquímico e ex-colaborador da tabaqueira Brown & Williamson. O filme é ‘The Insider’ (‘O Informador’), realizado em 1999 por Michael Mann e conta uma história real. O bioquímico dispôs-se a revelar, na televisão, que a indústria do tabaco não só sabia que os cigarros causam adição e prejudicam a saúde, como agiu deliberadamente, manipulando-os quimicamente, com o objectivo de aumentar a dependência. Al Pacino é Lowell Bergman, produtor do programa ‘60 Minutes’, que convence Wigand a aceitar uma entrevista.
O filme mostra o modo de actuação da indústria do tabaco, sob ameaça, mas também o poder do dinheiro, capaz de levar o gigante CBS a censurar a entrevista de Wigand, cuja vida pessoal foi, entretanto, devassada. O verdadeiro Wigand apresenta-se em www.jeffreywigand.com/insider/."
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